Aos 84 anos de idade, o maestro amazonense Nivaldo Oliveira Santiago não pensa em parar. Isso para ele não existe. A arte, segundo afirmou, é vida e mantém o artista dentro da eternidade. E ele comprova isso todos os dias.
Mesmo com a idade avançada, o conceituado artista mantém uma rotina de aulas e composições musicais. Atualmente residindo na pacata cidade mineira de Bom Despacho, localizado na região do Alto São Francisco, o maestro não fica quieto e está à frente, há uma década, do coral Voz e Vida, onde desenvolve o projeto musical “Crescendo com música”, voltado para as crianças e adolescentes daquela cidade.
Ao longo de mais de 60 anos de carreira, o maestro – que também é professor de música, compositor e regente – tem uma trajetória de sucesso nos principais corais do país e pioneiro na introdução da música no Amazonas, em meados da década de 1950.
Toda essa trajetória resultou em um livro biografia “Nivaldo Santiago: Uma Amazônia de Música”, lançado pela escritora Auta Gagliardi Madeira, cuja edição especial foi lançada, respectivamente, na cidade de Bom Despacho e em Manaus, cidade natal do maestro, quando completou 80 anos, em 2009.
Nivaldo, que agora é cidadão honorário de Bom Despacho, tem na mulher, a doutora em artes, Maria do Socorro de Farias Santiago, o seu braço direito em seu trabalho, em que é a principal colaboradora na preparação corporal e cênica dos corais que rege. Seu mais novo projeto no coral Voz e Vida de Bom Despacho, que resgatou após um período em que estava sem regente e abandonado, já resulta bons frutos ao maestro.
Após assumir o coral mineiro, ele começou a prepará-lo para voos mais altos. Com pouco mais de 2 anos à frente do grupo, o Voz e Vida já estava participando de diversos festivais: Internacional de Maringá, Paraná; Encontro Nacional de Coros de Sergipe, Aracaju; Festival Internacional de Criciúma, Santa Catarina, Festival Unicanto de Corais, em Londrina, PR. E, ainda concertos em cidades mineiras, a exemplo de Divinópolis e a capital, Belo Horizonte, além das cidades de Curitiba e Florianópolis.
EM TEMPO – Como foi essa opção de trocar o Amazonas pela cidade de Bom Despacho, em Minas Gerais?
Nivaldo Santiago – Não foi opção, nem “troca” (alguém trocaria o Amazonas por outro lugar?) eu estava aposentado – não por gosto, mas por pressão, por uma espécie de política – minha mulher fazendo doutorado na Universidade de São Paulo (USP), meu filho e meu irmão mais novo em Belo Horizonte; eu sem nada mais para fazer em Manaus, então mudei para Minas, berço dos fascinantes profetas e celeiro da cultura nossa. Era um destino. Bom Despacho veio depois, discretamente – uma característica bem mineira. Minha mulher professora contumaz, renitente e teimosa, foi chamada para uma universidade local; eu vim depois num processo inverso ao dos militares.
EM TEMPO – O senhor iniciou no Amazonas, apenas com a “cara e a coragem”, o projeto de se fazer música. Como foi esse começo?
NS – Foi em 1955. Eu estava “de passagem por Manaus”, acabei ficando “de volta”. Além da “cara e a coragem” que você cita, eu trazia a loucura… Deu no que deu…
EM TEMPO – Durante muito tempo o senhor esteve à frente da Universidade do Amazonas e também da do Pará. Como foram essas experiências?
NS – Universidade do Amazonas, do Pará, e de novo do Amazonas. Foram realmente grandes experiências que servem até hoje. A descoberta de um passado brilhante e sua decadência, a luta para que todo mundo acreditasse na musicalidade – Pará e Amazonas – o prazer de fazer música na Amazônia! Quer coisa melhor?
EM TEMPO – Quando o senhor foi para Minas Gerais percebeu que um dos poucos corais existente na cidade de Bom Despacho estava desativado por falta de maestro, e decidiu reativá-lo. O senhor não pretende parar?
NS – Bom Despacho é uma pequena cidade em um lindo planalto do centro-oeste de Minas Gerais. “Um sol ardente” como diz uma canção local, um calorzinho parecido com o nosso; um calor humano; tudo muito parecido com a nossa terra; talvez por isso eu goste tanto daqui. E sobre tudo isso o coral Voz e Vida. Ele não estava desativado, estava sem regente. Bastou um estalar de dedo e ele voltou a cantar e, já são 10 anos. E canta até hoje, aqui e por aí afora….. Parar? A arte não para; se parar não é arte. É como a eternidade. Arte é vida e nos mantém dentro da eternidade.
EM TEMPO – Nos festivais de música o senhor sempre é mais aplaudido, com coro mais destacado, fruto do seu empenho na carreira. O senhor ainda almeja mais alguma coisa no campo da música?
NS – Nos festivais onde tenho apresentado meus corais eles são sempre muito aplaudidos. Se almejo alguma coisa? Claro! Encontrar a serenidade para concluir meus projetos de composição e tornar pública minha música.
EM TEMPO – Em 2009, o senhor foi homenageado com a publicação de um livro contando a sua biografia. Como se sentiu diante dessa honraria?
NS – Auta Madeira (que escreveu a biografia) comprovou sua origem. Só quem tem a música na própria alma e com antecedentes que, com sua música encantaram gerações e gerações de amazonenses, tem sensibilidade e coragem para garimpar minha vida musical. Para mim foi um agradável espanto.
Comentário meu: Pouca gente sabe que foi o maestro Nivaldo Santiago quem criou o Coral João Gomes Jr. ainda hoje em plena atividade e cada vez melhor.