As pesquisas e a campanha do medo

Se por um lado as duas mais recentes pesquisas de intenção de voto, ambas divulgadas na última semana, permitem clarear mais os horizontes da disputa neste início de campanha oficial, por outro lado, explicam o acirramento dos ataques vindos da oposição demo-tucana. Afinal, o quadro é incômodo para José Serra.

Na corrida pela Presidência da República, a candidata que tem o apoio de Lula, Dilma Rousseff, lidera no levantamento do Instituto Vox Populi (41% a 33%) e empata tecnicamente no Datafolha (36% a 37% para Serra).

Mas Dilma vem de trajetória de alta, tem menor rejeição (19% ante os 26% de Serra), lidera a espontânea (28% a 21% na Vox e 21% a 16% no Datafolha), possui maior expectativa de vitória (41% a 30%) e ainda não é conhecida por 30% do eleitorado como candidata do bem avaliado presidente Lula (77% de ótimo/bom no Datafolha). No segundo turno, Dilma vence Serra na Vox Populi (46% a 38%) e há empate técnico no Datafolha (46% a 45%).

Uma das importantes variáveis é o grau de influência das disputas estaduais no plano nacional e vice-versa. Os dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) revelam que 75,94% do eleitorado brasileiro se concentra em dez Estados: São Paulo (22,3%), Minas Gerais (10,7%), Rio de Janeiro (8,5%), Bahia (7%), Rio Grande do Sul (5,9%), Paraná (5,6%), Pernambuco (4,6%), Ceará (4,3%), Pará (3,5%) e Santa Catarina (3,3%). Nesses dez Estados, as pesquisas revelam boas chances de haver segundo turno em quatro: Santa Catarina, Pará, Paraná e Rio Grande do Sul.

A disputa mais acirrada nesses Estados tende a fazer com que um candidato a presidente, ao ter seu nome associado a um dado candidato a governador, encontre mais resistências no eleitorado dos demais nomes ao governo. O inverso tende a ocorrer nos Estados com perspectivas de definição em primeiro turno: o candidato a presidente que se vir vinculado ao nome que lidera a disputa estadual pode colher frutos dessa associação.

Se observarmos os dados apresentados pelas pesquisas nos seis Estados em que há grandes chances de se conhecer o novo governador já no primeiro turno, veremos que em cinco deles o nome que lidera a disputa apoia Dilma no plano nacional: Minas Gerais (Hélio Costa, 44%), Rio de Janeiro (Sérgio Cabral, 53%), Bahia (Jacques Wagner, 44%), Pernambuco (Eduardo Campos, 59%) e Ceará (Cid Gomes, 47%). Somente em São Paulo (Alckmin, 49%), Serra vive tal situação.

O quadro nos Estados se complementa com a corrida pelas vagas de senador. De acordo com as pesquisas em oito Estados, a oposição perderia espaço no Senado, vendo sua bancada cair de seis para quadro senadores. A base governista, ao contrário, aumentaria de oito para dez representantes no Senado. Adicionalmente, em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia haverá disputa direta entre um nome da oposição e um que apoia Dilma.

Estamos a uma semana do primeiro debate presidencial entre Dilma e Serra. O que as pesquisas dizem hoje é que Dilma está em tendência de alta. Ademais, os palanques de Serra nos Estados são frágeis e, a cada semana, se lê notícias de dissidências entre seus apoiadores. Dilma possui força para crescer junto com as campanhas estaduais, mas é preciso unir esforços e fazer uma campanha propositiva, que analise as boas iniciativas do Governo Lula, mas que mostre como é possível continuar melhorando o Brasil.

É isso que Dilma vem fazendo, apesar da estratégia de disseminar medo e terror de Serra. É lamentável que com o quadro adverso a oposição demo-tucana tenha adotado uma campanha desrespeitosa —com jornalistas e entrevistadores, inclusive. Mas isso não é novidade. Em 2002, quando Serra perdeu as eleições para Lula, a tática foi a mesma: inventaram acusações irresponsáveis e infundadas, tentaram criar um clima de medo se Lula vencesse (até com participação de atriz famosa) e fugiram do debate de propostas. Felizmente, o Brasil elegeu Lula.

Talvez Serra não perceba, mas seu fraco desempenho em entrevistas, seus ataques pessoais a Dilma e a campanha de exploração do medo e do preconceito estão se voltando contra ele. Afinal, não dá para fazer campanha só atacando as propostas e realizações de Dilma e do Governo Lula.

José Dirceu, 64, é advogado e ex-ministro da Casa Civil