Suframa, a César o que é de César

Por OSIRIS SILVA:

O fatiamento de cargos técnicos da Suframa (ou de quaisquer outras instituições), distribuídos entre apaniguados e afilhados politicos é, sobretudo, uma fraude. Bem entendido, no sentido etimológico da palavra, ao encerrar qualquer ato ardiloso, enganoso, de má-fé. Enquanto órgãos responsáveis pela ação de desenvolvimento tornam-se objeto de troca de favores, são envolvidos no jogo polítco do “toma lá dá cá”, salve-se quem puder. Ganha o politico, perdemos nós a sociedade. Ao impor nomes estranhos, não ajustados profissionalmente àquela determinada área, deixa-se de dar vez a técnicos preparados no próprio órgão, com formação e experiência adequadas ao exercício de suas atribuições. Por mais debilitado que se encontre o acervo técnico da Suframa, ali se encontram nomes qualificados funcional, técnica e moralmente, aptos a assumir o comando da autarquia em todos os níveis.

È tido como modelo de gestão de pessoas a inclusão de princípios, estratégias, políticas e práticas ou processos que implementam diretrizes e estilos de atuação dos gestores. Diversos estudos demonstram que a força de trabalho é o principal componente para a diferenciação e a potencialização de resultados organizacionais em termos de qualidade e produtividade. Cabe, então, à gestão de pessoas a orientação e o direcionamento do conjunto de interações humanas e das relações de trabalho. Não a politico, certamente.

Em países desenvolvidos, cargos técnicos são ocupados por profissionais dos quadros internos dos órgãos públicos, formados e reciclados periodicamente. São funcionários permanentes, que dispõem de planos de carreira, estabilidade e salários compatíveis. Não sujeitos à ingerência politica de qualquer natureza. Diferentemente, quando o interesse público se submete a conveniências partidárias, concretamente, o que significam estudos, pesquisas, planos e projetos, se não há massa crítica em quantidade e qualidade para levar a cabo obras de fundamental interesse do Estado? Enquanto políticos disputam a ferro e fogo posições junto a essas entidades, questões de transcendental importância permanecem relegadas a segundo plano em detrimentos dos interesses maiores da sociedade.

A propósito, a historiadora Etelvina Garcia observa que, passados 50 anos da criação da Zona Franca de Manaus (ZFM), “esquecemos de nos preparar para fazer parte da Economia do Conhecimento. Não fomos (e ainda não somos) capazes de converter os dividendos do modelo Zona Franca em educação, ciência, tecnologia, inovação, consciência sociopolítica”. Não nos apercebemos, salienta Garcia, “de que esses fatores são absolutamente essenciais para que possamos promover mudanças substantivas e inadiáveis na estrutura da nossa sociedade e acumular competência (em escala crescente, e só Deus sabe em que velocidade!) com o fim de  responder aos desafios de competitividade da economia globalizada”.

Um desses desafios está bem à frente do nosso nariz, salienta Etelvina Garcia. Consiste em “gerar subsídios para ampliar a matriz do polo industrial incentivado e expandi-lo para o interior do Amazonas e da Amazônia Ocidental, atraindo investimentos (inclusive em infraestrutura) em níveis suficientes para verticalizar mais ainda os segmentos industriais já implantados e para viabilizar a adesão de novos empreendimentos”. Em especial, salienta Garcia, “os demandantes de matéria-prima da nossa biodiversidade fantástica e de outras substâncias de valor econômico incalculável, presentes nas nossas províncias minerais, a exemplo de óxidos de terras raras utilizados na fabricação de tablets, telefones celulares e outros bens que fazem parte da linha de produção do nosso polo industrial incentivado e estão incorporados ao dia a dia dos habitantes deste planeta. Infelizmente, para a historiadora, “nossa visão de futuro ainda não conseguiu ir além da necessidade de perenizar os incentivos fiscais do D.L.288/67”.