Conversa de Ariano Suassuna com um amigo ali por volta de 1980.
– Eu só viajo de carro porque tenho medo de avião.
– Que é isso, Ariano? Você viaja de carro por estradas ruins e de repente encontra um buraco. O carro cai no buraco, capota e lá se foi você – argumentou o amigo.
– E no avião, que o buraco acompanha o voo?
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Candidato a uma vaga na Academia Brasileira de Letras, João Ubaldo pediu a Jorge Amado, seu amigo, que intercedesse por ele junto a Ariano. Jorge e Ariano já eram “imortais”.
– Não posso. Uma vez pedi o voto de Ariano para a eleição de Eduardo Portela. Ele disse que votaria e não votou – respondeu Jorge.
Diante da insistência de João Ubaldo, concordou em procurar Ariano. Que garantiu seu voto para João Ubaldo.
– É, mas você garantiu para Eduardo Portela e não votou – lembrou Jorge.
– Você tem toda razão. Prometer, eu prometo. Mas sou meio esquecido – encerrou Ariano.
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De Ariano:
– Bom mesmo é falar mal pelas costas, porque pela frente é constrangedor.
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Quando Ariano foi convidado para ser Secretário de Cultura do Recife, o assessor de imprensa da prefeitura pediu-lhe um currículo para distribuir com os jornalistas e ser publicado no Diário Oficial do município.
– Não tenho currículo – respondeu Ariano.
Impaciente, o assessor insistiu:
– Todo secretário tem que apresentar um currículo.
Aí foi Ariano que ficou impaciente. E disse:
– Então anota aí: Ariano Suassuna, escritor brasileiro, razoavelmente conhecido no Exterior.
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Ariano costumava chamar a morte de “Caetana”. E em suas aulas-espetáculo sempre dizia assim:
– Não vou morrer. Vou me esconder da “Caetana” e ela não vai me pegar.
Na semana passada, porém, no Festival de Inverno de Garanhuns, ele encerrou o que seria sua última aula dizendo:
– Vou dizer uma coisa a vocês: eu vou morrer. Vou, sim. Mas meus personagens ficarão todos com vocês.