Mais do que palavras

A PALAVRA segue como senhora das construções humanas. Os bons discursos unem razão e emoção, o argumento lógico e o apelo do espírito. Feitos por líderes carismáticos e conscientes de suas responsabilidades, motivam, convencem, dão alento e direção. Quem não se lembra dos discursos de Winston Churchill convocando a Inglaterra para vencer as forças de Hitler? Ou da voz firme de Martin Luther King, confrontando as velhas estruturas racistas que moldavam a sociedade norte-americana?

O presidente Lula, ainda que muitas vezes polêmico, de fato discursa bem. Na COP-15, dentre todos os líderes mundiais, foi dele a fala mais vigorosa e emocionante. Sua chegada deu uma guinada na posição brasileira. Como eu mesma dissera lá, concordou que contribuir com um fundo mundial é uma forma inteligente de pressionar os países mais desenvolvidos a contribuírem mais. E, apesar do acordo real ter ficado para a COP-16, em 2010 no México, ajudou a manter o mínimo de sinalização de compromisso político e econômico com o bem comum.

Mas o que faz com que discursos se perpetuem na história é o fato de não se distanciarem da ação. Se palavras visam apenas conquistar apoio momentâneo da população, elas se perdem na próxima curva. Se expressam propósitos reais, obrigam à coerência. E, tal qual um roteiro, geram premissas.

A primeira delas, no contexto brasileiro, é impedir que a legislação ambiental seja desmontada no Congresso Nacional, como tem acontecido. O que inclui revogar o decreto que anistia quem desrespeitou a legislação ambiental. O compromisso proferido pelo presidente Lula lá fora não se coaduna com acordos político-eleitorais que têm sacrificado o meio ambiente para satisfazer aliados da hora.

É preciso também agir rápido para aprovar o zoneamento agroecológico da cana-de-açúcar, regulamentar a política de mudanças climáticas e aprofundar as mudanças necessárias para sustentar a posição brasileira na próxima conferência do clima. E redirecionar recursos públicos que hoje, por meio de investimentos pesados do BNDES, por exemplo, viabilizam projetos em termelétricas e em pecuária predatória na Amazônia. E, ainda, defender efetivamente os biomas brasileiros.

O que o discurso do presidente pede é a adoção de um modelo novo de desenvolvimento sustentável, que mobilize todos os atores políticos, econômicos e sociais. Por enquanto, temos a pressão da sociedade para tornar realidade o discurso de Copenhague. Falta integralizar a parte da coerência do poder público. Aí fechará a conta entre discurso e prática.

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