Flamengo até morrer

Sou Flamengo desde os cinco anos de idade e tenho verdadeira devoção pelo time. Vou assistir o jogo de hoje na Praça do Caranguejo, no Eldorado, ao lado de uma multidão que, como eu, quer marcar o momento histórico da conquista do hexa.

O Flamengo não é um time administrativamente organizado, não dispõe da estrutura de um São Paulo ou um Palmeiras, deve bastante, nem sempre paga salários em dia. Chega a desmentir a tese de que, para ser campeão brasileiro, precisa ter tudo o que ele não tem.

Tem, por outro lado, uma torcida excepcional, que contagia e faz com que os jogadores que envergam o manto sagrado tenham uma das duas reações: ou se intimidam, jogando muito por outro clube e nada pelo Flamengo, ou se consagram e até renascem, como foi o caso de Adriano e Petkovic.

O Flamengo precisou de Botafogo e Fluminense e dos tropeços de Palmeiras e São Paulo para chegar à liderança, mas também é verdade que tropeçou muito e desnecessariamente. Tropeçou, já na fase final, por exemplo, diante do Barueri. O fato é que, pela regra dos pontos corridos, depende só dele para ser campeão.

Não menosprezo o Grêmio, com esse negócio de que vai entregar o jogo. Se escalar o time juvenil, eles vão morder a bola para agarrar a chance. Respeito quem quer que entre em campo, envergando a briosa camisa do Grêmio.

Disse, diretamente, ao presidente Márcio Braga: fizemos festa e perdemos para o América do México; fizemos festa e empatamos com o Goiás. Não deixe aquele bando de criança entrando com os jogadores, pedindo autógrafos nos vestiários. Tem gente grande que não consegue dar entrevista para a Globo e criança no vestiário do Flamengo dá várias. Ele me perguntou: “E você acha mesmo que isso atrapalha?” E eu: “Claro. A responsabilidade do título é enorme. Não contempla clima de ôba-ôba”.

Eu quero fazer uma grande festa, começando na Praça do Caranguejo e terminando não sei onde. Mas depois do resultado positivo.

Tenho um auxiliar, há muitos anos, o Nilson Ricardo, que é Fluminense e sabe que eu torço por Fluminense e Botafogo, neste momento, porque não quero o empobrecimento do futebol carioca e porque ajudaram o Flamengo.

Num certo ano, Nilson me disse que o Flamengo ia ser rebaixado. Ele e os matemáticos pensavam assim. Disseram que as chances de o time ser campeão era de 5%. Peço que não façam mais previsão desse tipo porque, com uma torcida dessas, o time vira qualquer coisa.

Escrevi num papel e dei a escalação do Flamengo, faltando 11 jogos, para o Nilson Ricardo. E coloquei: Goleiro, Zico; lateral-direito Zico; zagueiros Zico e Zico; lateral-esquerdo Zico; volante Zico; meias Zico e Zico; ponta-direita Zico; centroavante Zico; ponta-esquerda Zico. Técnico: Zico. Presidente: Zico. Diretor de futebol: Zico. Com o espírito do Galinho, o Flamengo, em 11 jogos, ganhou nove, empatou uma e perdeu outra.

De cabeça fria: apesar da falta de ajustes internos, o Flamengo voltou à elite do futebol brasileiro. Ou está na Libertadores ou fica fora por pouquíssimo, como ano passado.

O Campeonato Brasileiro é o mais competitivo do mundo. Itália, Espanha e Inglaterra têm um ou dois times competitivos. Aqui, os de baixo ganham dos de cima.

Uma vez Flamengo…

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