Feliz Debate Novo

Para uma pessoa, basta desejar-lhe Feliz Ano Novo, ela imaginará os desejos a serem realizados.

Com um país, é preciso definir como fazê-lo feliz. Para o Brasil, um bom ano novo seria aproveitarmos o período eleitoral para debatermos os rumos que corrigirão os problemas que persistem.

Graças à capacidade de comunicação e de aglutinação do Presidente – aliada ao seu senso de responsabilidade na economia e seu sentimento de solidariedade social -, ocorreu um retrocesso nos debates sobre os rumos para o Brasil.

A oposição ficou sem bandeiras, apenas denúncias, o povo se sente atendido pelo pouco que recebe, a economia continuou sua marcha, atendendo classes médias e empresários.

Os intelectuais se calaram. Os estudantes foram acomodados; os sindicatos, cooptados; as ONGs, absorvidas; os partidos, descaracterizados e desmoralizados. Além de que o prestígio internacional do Lula, interno e externo, criou uma unanimidade reverencial, pela admiração ou pela bajulação.

O debate sumiu, no máximo fazem-se críticas. Junte-se a isso o apagão educacional e cultural, com nossas massas excluídas e nossas elites sem imaginação. Até porque depois da crise do socialismo e do capitalismo, nossas elites ficaram sem pensamentos importados para copiar.

Nesse início de ano eleitoral, não se espera debate de ideias entre os candidatos dos grandes partidos. Apenas a disputa entre quem oferecesse a maior taxa de crescimento, o melhor PAC e a mais generosa Bolsa Família.

Mas, o Brasil e o mundo estão em uma encruzilhada entre seguir o mesmo rumo das últimas décadas ou reorientar seu projeto de nação dentro da globalização. A eleição de 2010 é uma chance para o Brasil e pode significar uma chance para o mundo, se formos capazes de criar um novo rumo para nós.

Se os candidatos, especialmente à Presidência, apresentarem propostas para mudar o rumo do Brasil teremos um ingrediente de bom ano novo.

Um debate fundamental deve ser como construir uma democracia-ética no comportamento dos políticos e nas prioridades das políticas.

Como acabar com a corrupção e a impunidade e como elaborar orçamentos públicos comprometidos com os interesses comuns da população de hoje e da futura Nação.

Não pode faltar no debate a busca de crescimento equilibrado com o meio ambiente. Não basta crescer, é preciso definir quais produtos serão priorizados e com quais recursos naturais – não apenas financeiros – serão produzidos.

As formas de superar a persistência secular da pobreza em nosso País e de como reduzir a desigualdade social devem ser debatidas.

Se a proposta é continuar esperando que os resultados do crescimento econômico se espalhem ou se o caminho seria uma revolução que assegure igualdade educacional para todas as crianças, independentemente da renda dos pais.

Outra bandeira fundamental a ser debatida é como reorientar o velho modelo de produção baseado na indústria mecânica para uma nova economia, com produtos produzidos pelo capital-conhecimento, originados da ciência, tecnologia e portanto da educação de base universal com qualidade.

Isso implica o debate sobre qual a base do desenvolvimento futuro do Brasil: o capital financeiro ou a educação, a ciência, a tecnologia e a cultura.

Será necessário debater como conquistar a paz nas ruas: cercar as casas com muros e construir cadeias ou fazer pontes entre as diversas partes da sociedade.

A escolha entre a eficiência dos serviços públicos ou o aumento na oferta de bens privados é um debate que a população precisa fazer antes de escolher o seu candidato – ou candidata – à presidência da República.

Aparentemente, não há vontade para fazer esse debate. A mídia não se interessa; os eleitores, ainda menos, os intelectuais estão alheios; os partidos, perdidos e os candidatos não querem correr riscos. A campanha, parece, será feita com base nos shows de marketing e não na consistência das ideias.

Por isso, um Bom e Feliz Debate é o que podemos desejar, em 2010, para o nosso país.

Cristovam Buarque é senador pelo PDT-DF

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