Na próxima segunda-feira (7/12), começa em Copenhagen a COP-15 (Conferência Mundial de Clima das Nações Unidas).
Será um momento decisivo para a Humanidade, que exigirá dos países sérios compromissos para enfrentarmos o efeito estufa.
O debate é crucial para o Brasil. Segundo estudo realizado pela Embrapa, USP, Unicamp e UFRJ, o país perderá R$ 3,6 trilhões até 2050 com o aquecimento global, caso nada seja feito.
Um dos objetivos do encontro é conseguir um acordo para a redução da emissão de dióxido de carbono.
A China se comprometeu com entre 40% e 45% de diminuição das emissões até 2020, tendo como base o ano de 2005.
Para alcançar a meta, a China quer adotar fontes renováveis de energias renováveis. Hoje, 75% da energia do país têm origem nas usinas de carvão, altamente poluentes.
O gabinete chinês quer que em 2020 ao menos 15% da energia seja limpa, o que é extremamente interessante para o Brasil que tem enorme potencial de desenvolvimento tecnológico nesse campo.
Atualmente, a China joga na atmosfera mais gases poluentes do que os EUA, mas juntos são os dois maiores poluidores do planeta, com 40% das emissões.
Essa condição chinesa provocou fortes pressões por parte dos americanos e dos europeus por um compromisso de redução ainda maior.
A China, no entanto, argumenta, com razão, que já faz muito mais do que os países desenvolvidos faziam no mesmo estágio de desenvolvimento.
De fato, a meta com a qual os EUA irão se comprometer é de 17% de corte em relação a 2005.
Além disso, as emissões por capta chinesas são inferiores às americanas (5,7 toneladas de CO2 e 19 toneladas, respectivamente).
Em contraste, a renda per capita na China é de US$ 3.500, 10% a menos que a renda per capita dos EUA, Japão e França.
Isso nos remete à fundamental discussão sobre a disparidade na relação grau de desenvolvimento-participação no efeito estufa-compromisso de redução assumido para Copenhagen.
O Banco Mundial (Bird) já alertou para a necessidade de os países desenvolvidos ajudarem financeiramente os demais a levarem adiante programas de redução de emissões.
Afinal, historicamente, foram eles justamente os principais responsáveis pelas causas do aquecimento global. Politicamente, é isso o que a China está dizendo ao mundo.
Mas é também o que já sinalizou o presidente da França, Nicolas Sarkozy, que propôs que os países ricos financiem a proteção de florestas, como a Amazônia, para combater o aquecimento global com investimento nos países pobres.
Ele não disse a moeda, mas prometeu destinar $ 10 bilhões nos próximos três anos para esse fim.
Veio da França também a constatação do importante papel que o Brasil tem a desempenhar na COP-15. O jornal Le Monde coloca o Brasil como líder da luta contra o aquecimento global. E o faz com razão.
Ao anunciar a meta de cortar até 2020 entre 36,1% e 38,9% das emissões de dióxido de carbono, o presidente Lula tomou a dianteira no debate e pode ter mudado o desfecho da conferência.
Até o anúncio brasileiro, a expectativa era de chances pequenas de acordo e frustração sobre o clima. Mas dias depois, EUA e China, que sinalizavam irem à COP-15 sem metas, apresentaram as suas.
E o cenário hoje é positivo para um acordo, como avalia o secretário-executivo da conferência, Yvo de Boer.
Lula vai à Copenhagen para articular uma saída.
Tem propostas e realizações concretas no campo da preservação ambiental e climática que o credenciam a esse papel, além de credibilidade internacional para desempenhar com desenvoltura essa atribuição.
José Dirceu, 63, é advogado e ex-ministro