Que homenagem

Fui sábado último ao Sambódromo para presenciar a homenagem do Reino Unido da Liberdade a Gilberto Mestrinho. Emoção do começo ao fim. As pessoas foram às lágrimas com a história do velho líder que influenciou a vida do Amazonas nos últimos 53 anos. Pilhei adultos, idosos e crianças no tributo marejado a uma figura importante para todos.

Quem votou nele e quem não o fez ou havia deixado de fazê-lo, cantou, dançou e chorou, vendo e revendo a História recente do Amazonas, suas vitórias, suas dores. Senti forte impacto. Afinal, ele me viu cri ança e terminamos ternos amigos.

Estivemos na mesma trincheira política em 1982, quando simbolizou a oposição ao regime autoritário; em 85, quando levamos Manoel Ribeiro à Prefeitura; em 1992, apoiando José Dutra; em 96, segundo turno, ao lado de Serafim Corrêa; em 98, quando lhe endossei a candidatura ao Senado. E vivemos instantes de afastamento político, os mais agudos em 86, quando Gilberto apoiou Amazonino Mendes contra o Muda Amazonas, movimento amplo que me indicava para o governo do Estado, e em 88, quando nos enfrentamos diretamente em Manaus.

Meu pai, Arthur Virgílio Filho, e ele foram os construtores, com Plínio Coelho e outras lideranças, do PTB de Vargas, Jango e Brizola no Amazonas. Proporcionalmente, a seccional amazonense era mais forte que a gaúcha, onde militaram esses três brasileiros. O Rio Grande do Sul, aliás, foi o berço do trabalhismo no Brasil, na antevisão de que era possível escapar da dicotomia entre capitalismo insensível e ilusões vãs do comunismo.

Era estreita sua relação com meu pai. As fotos de arquivo quase sempre os estampavam juntos, muitas delas constantes do excelente livro da professora Iraildes Caldas Torres, da Ufam.

Iraildes não o santifica. Em seu livro, “Arquitetura do Poder”, apresentou visão acadêmica desse que se constituiu no mais relevante líder político do Amazonas. Não negou defeitos nem qualidades. Não escreveu como “gilbertista”, muito menos como os que, diante da morte, conseguiam apegar-se a detalhes da vida para compor um todo abaixo da real dimensão de Mestrinho.

Outro livro que aguardo é o de Alfredo Lopes, talentoso e sério, notório amigo do biografado, que haverá de ser fiel aos fatos históricos. Riqueza de dados, perfeito conhecimento do perfil psicológico de Gilberto, documentos abundantes, tudo me leva a crer que o cruzamento das duas obras desenhará para as novas gerações retrato bastante verdadeiro do marcante homem público.

Volto à homenagem do Reino Unido. Imposível negar: saudades para uns, lembranças para todos, descobertas para a juventude.

Contagiou. Mexeu.Valeu.

*o autor é Senador do Amazonas.

O autor é Senador do Amazonas

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