As opções que a América Latina tem

Nas últimas duas semanas, as populações de dois países vizinhos e amigos do Brasil foram às urnas para, democraticamente, escolher seus presidentes pelos próximos anos.

Primeiro no Uruguai, com a vitória no segundo turno de José Pepe Mujica, depois na Bolívia, com a reeleição de Evo Morales.

A vitória de Mujica no Uruguai, que fez maioria parlamentar, demonstra que o povo quer a continuidade do governo de Tabaré Vasquez, que fortaleceu o país internamente, implementou e valorizou as políticas sociais e deu ao Estado um papel ativo na economia sem ficar à mercê dos interesses do mercado.

Como bem escreveu o deputado estadual Adão Villaverde (PT-RS), “o que se está assistindo nos últimos anos é o crescimento e a consolidação de um grande movimento social e econômico, rural e urbano de mudanças e transformações”.

O próximo presidente uruguaio já sinalizou também que o Mercosul é importante e que trabalhará por uma participação mais ativa no bloco comercial e político.

A reeleição por ampla maioria de Evo Morales na Bolívia, também com a conquista da maior parte das cadeiras do Legislativo, atesta que a população aprova as políticas do primeiro mandato.

Entre elas, a de resgate dos recursos naturais ao sofrido povo boliviano e a adoção de uma agenda social em consonância com a maioria do país, pobre, camponesa e indígena.

A vitória de Morales foi tão significativa que ele venceu até na região da Media Luna -fez dois dos quatro senadores por departamento.

Há muito em comum entre as recentes eleições no Uruguai e na Bolívia e as futuras eleições no Chile e no Brasil. Aliás, começa a ficar evidente em toda a América do Sul e Latina essa configuração política.

Estão se enfrentando nas urnas duas visões distintas de desenvolvimento, papel do Estado, importância das políticas sociais, atuação regional, enfim, duas visões distintas de país.

De um lado, está o neoconservadorismo, a direita, outrora representada pelos neoliberais e seguidores das diretrizes dos EUA para a região.

São árduos defensores do mercado e de um Estado com atuação mínima e limitada para estímulo ao desenvolvimento socioeconômico.

Do outro lado, estão as forças que representam uma nova visão de desenvolvimento econômico, pautado no progresso social e sustentável planejado a partir de um Estado atuante e capaz de fazer a interface entre os interesses populares (sociedade) e os do mercado.

Ou seja, as forças de esquerda.

O enfrentamento dessas duas visões tem resultado, paulatinamente, na substituição do primeiro tipo de governo pelo novo paradigma administrativo.

Foi assim no Brasil, Uruguai, Equador, Paraguai, El Salvador, Chile e na Argentina, Venezuela, Bolívia e Nicarágua. As forças conservadoras ainda se mantêm na Colômbia, no Peru, no México e em Honduras.

Para nós da esquerda, que lutamos contra as ditaduras apoiadas e financiadas pelos EUA, é motivo de orgulho esse contraponto que começa a se reforçar a cada eleição democrática na região.

A mudança de configuração tem levado a direita a recorrer ao golpismo e à violação dos direitos civis e políticos, particularmente do direito de informação, para tentar recuperar o terreno perdido.

Foi o que se viu no caso de Honduras, com uma eleição vergonhosa, manu militare e fruto de um golpe de Estado, condenado com veemência pelos países do Mercosul.

Houve também tentativa de golpe também na Bolívia, quando a oposição, influenciada pela elite do Departamento (Estado) de Santa Cruz, chegou a planejar um atentado contra o presidente, felizmente descoberto a tempo de desmoralizar os oposicionistas.

Mas sabemos que as bandeiras da democracia e das liberdades civis e políticas estão com a esquerda, como sempre estiveram na América Latina.

O Chile será o próximo a testar nas urnas essas duas visões de país. Em outubro de 2010, será a vez do Brasil.

A continuidade das mudanças realizadas pelo governo do presidente Lula é fundamental para o desenvolvimento nacional, a soberania e a distribuição de renda.

José Dirceu, 63, é advogado e ex-ministro da Casa Civil

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