Aurélio Carneiro de Andrade

Perdemos mestre Aurélio. Juntou-se a Fafá, minha eterna secretária, e a essa grande artista plástica que foi Bernadete Andrade, dona de obra enorme, que, infelizmente, ainda não está devidamente catalogada – brinco com meus filhos que tenho tantos quadros da Berna que um dia, o do reconhecimento, ficarei rico, ou eu ou eles -, suas queridas e saudosas filhas. Também foi juntar-se a dona Alicinha, minha querida e dileta amiga.

“Seo” Aurélio Carneiro de Andrade foi prefeito de Barreirinha. É autor do hino daquele Município, uma belíssima declaração de amor à terra que governou com imenso carinho e da qual nunca se afastou.

Era uma figura do pensamento, um intelectual admirável, prolífico, intenso, vívido, lúcido.

Estive com ele, dez dias antes de sua morte, quando fizemos um jantar em comemoração a seu aniversário. Passou a noite inteira contando piadas, recitando poesias, repassando quilômetros e quilômetros de letras.

Um homem como ele, tem a capacidade de nos remeter a horizontes distantes, adormecidos na memória. Lembrei-me de meu pai, o senador Arthur Virgílio Filho, em seu sonho constante de construir uma casa para viver os últimos dias, placidamente, no Município de São Gabriel da Cachoeira, em meio à natureza exuberante – admiração perfeitamente explicável pela beleza que vemos, na cheia e na seca, naquele Município do Alto Rio Negro.

Vi-me subindo o Negro, num barco regional, como faço todos os anos. É maravilhoso contemplar água, praia e floresta, contrastando com o leito do rio, como uma moldura espetacular, oferecendo um banho mágico de energia. Tudo isso, na vida e na obra de “seo” Aurélio, era rotina.

Depois daquela noite deliciosa da festa de aniversário, quando notamos nele apenas uma pequena deficiência na perna, aparentemente superável, saí de sua companhia convencido que o teríamos por muitos anos. Infelizmente, a vida tem seus caprichos e ele se foi prematuramente.

Imagino o quanto foi duro perder Fafá e, mais recentemente, Dona Alicinha e Bernadete Andrade, três baluartes da vida tão familiar que construiu.

Deixa-nos essas duas talentosas participantes do movimento teatral amazonense, que são Socorro Andrade e Paula Frassinetti, a Frac, como chamo carinhosamente. E Magela Andrade, minha querida amiga, ex-secretária de meu Governo, quando fui prefeito de Manaus, atual integrante da equipe da reitora Márcia Perales Mendes Silva, na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), além da competente jornalista Georgina Andrade.

Meu querido Aurélio foi um homem cheio de filhas, genros e amigos. De minha parte, sempre me considerei um dos muitos que se sentiam meio filhos dele, participando de uma honrosa parte da casa que vivia sempre muito aberta, onde todos eram recebidos com imenso carinho e tinham toda liberdade para opinar.

Política era seu tema recorrente. O preferido, porém, sempre foi a poesia, que ele derramava tão deliciosamente.

Tive a honra de partilhar dos conselhos e da amizade desse grande amazonense.

Aurélio, meu querido amigo, descanse em paz.

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