O pacto olímpico

O Presidente Lula, o governador Sérgio Cabral, o prefeito Eduardo Paes e o presidente do COB, Carlos Nuzman, conseguiram um feito histórico: unir a vontade do povo brasileiro e conquistar a vitória de sediar as Olimpíadas no Rio.

Sem necessidade de uma consulta ao povo, conduziram um pacto nacional para três sucessivos governos, e ao custo previsto, inicialmente, de no mínimo R$26 bilhões, com recursos públicos, podendo chega a R$88 bilhões ao incluirmos recursos privados.

O resultado deste esforço pactuado será um aumento na autoestima nacional e no beneficiamento urbano de nossa Cidade Maravilhosa.

Mas, é incerto o resultado que as Olimpíadas deixarão na consolidação de nosso País como nação sintonizada com as exigências do século XXI: uma sociedade com igualdade de oportunidades, desenvolvimento ecologicamente sustentável, e uma economia produtora de bens e serviços com alto conteúdo de ciência e tecnologia.

O povo brasileiro, que fez o pacto para sediar as olimpíadas, tem condições de fazer um pacto para realizar uma mudança de rumo no modelo de nosso desenvolvimento.

A chave dessa mudança de rumo está em uma educação de qualidade à disposição de cada criança brasileira independente da cidade onde mora e da renda da sua família.

Essa educação igual levará à igualdade de oportunidades, criará uma consciência ecológica e será à base da economia baseada no conhecimento.

Além das justas comemorações, é preciso aproveitar o momento para irmos além daquilo que as olimpíadas oferecem, fazermos um pacto para além de sediar os Jogos.

O povo que, sob a liderança dos quatro citados na abertura deste artigo, foi capaz de fazer o pacto para sediar os jogos, pode fazer um Pacto Olímpico, para transformar o País.

Em primeiro lugar, um pacto dentro da própria olimpíada para que: os seus gastos sejam realizados com a máxima transparência, sem qualquer tipo de corrupção, os seus custos não impliquem redução nos gastos com educação, saúde, segurança, os programas de transferência de renda e o programa de aceleração do crescimento; tampouco provoquem déficit fiscal que deixará o risco de inflação, no rastro dos jogos.

Ao mesmo tempo, é preciso que a vitória não se limite à festa de abertura mas que, no rastro dos jogos, fiquemos com medalhas em número compatível com o tamanho do Brasil.

Isso implica canalizar recursos, desde já, para a implantação de quadras esportivas nas escolas do Brasil, com um programa para a descoberta e o desenvolvimento de talentos.

Segundo, é preciso um Pacto Olímpico para fazer a revolução que o Brasil precisa para enfrentar os desafios do futuro. O caminho é a revolução educacional.

O Brasil tem os recursos, e para isto já há um desejo implícito, embora tênue; falta o Pacto que transforme o tênue desejo em uma vontade nacional, comprometa o atual e os governos que virão, canalizando os recursos necessários.

A erradicação do analfabetismo até 2016 deve ser um pacto imediato, sem o que 14 milhões de brasileiros não vão conhecer a bandeira que tremulará na abertura das olimpíadas por não saberem ler “Ordem e Progresso”.

Será um pacto de execução mais longa do que os sete anos para construir a infraestrutura das Olimpíadas de 2016, exigirá até 20 ou 30 anos, mas com resultados transformadores e permanentes para todo o futuro da Nação.

Ficaremos não apenas no orgulho da festa e com alguns impactos urbanos em uma cidade, mas com o Brasil que sonhamos e devemos às gerações do futuro.

Nuzman, Paes, Cabral e Lula conseguiram encarnar uma vontade nacional e convencer o mundo de que o Brasil deveria sediar as Olimpíadas de 2016, juntos somos capazes de descobrir a necessidade e construirmos as condições para um pacto maior do que aquele pelas Olimpíadas, um pacto pela educação de qualidade igual para todos.

Façamos mais do que um pacto para sediar as olimpíadas esportivas, façamos um Pacto Olímpico para realizar a revolução que o Brasil precisa: a doce revolução pela educação.

Cristovam Buarque é senador pelo PDT do Distrito Federal

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