Política no centro da vida

É célebre a fórmula de Aristóteles: o homem é um animal político. Na sua época, a sociedade já era um ambiente segmentado e dinâmico: o que era benéfico a um segmento não necessariamente seria aos demais, e a realidade de um dia não necessariamente se repetiria no dia seguinte.

Enredado na diversidade e na mudança permanente, o homem tinha que ser político. De que outra maneira poderia reger sua vida, senão por meio do debate, da negociação, do conflito regulado?

Se a fórmula valia para a Grécia antiga, vale ainda mais para o mundo contemporâneo, com uma diferença: antes, a política dizia respeito somente aos seres humanos do sexo masculino; agora, ela pertence a todas as pessoas.

Política é necessidade e dimensão: como necessidade, deve ser satisfeita – para impedir nosso fenecer; como dimensão, deve ser cultivada – para expandir nosso ser. Dito de outro modo: se não fazemos política, nossa vida se deteriora; se fazemos, nossa vida se aperfeiçoa. Assim, a política se opõe tanto ao caos quanto à ordem atual – ela é sempre empenho por uma ordem melhor.

Vertida para o inglês, política pode ser polity, politics, policy. Polity são as regras do jogo da política: podem ser mais ou menos democráticas, transparentes e estáveis. Politics é o próprio jogo em que se enfrentam ou se aliam as diversas forças, com vistas à obtenção de mais reconhecimento e poder. Policy, do ponto de vista da atuação do Estado, é qualquer política pública (de saúde, segurança, educação, moradia etc.).

A política é, portanto, complexa e essencial. Por que, então, é freqüentemente vista como banal e espúria? Certamente, porque muitos a confundem com seu oposto, a “poluítica”. A política é a boa gestão da cidade, do campo, da floresta; a “poluítica” é o veneno-mor de uma sociedade; política é cuidado com o local onde nascemos, ou seja, a nação, e com a paisagem que nos envolve, ou seja, o país, além de amor atuante pelo planeta; “poluítica” é destruição do nosso lar comum, horizonte turvo, mundo imundo; a política se define pelo carinho com tudo o que nos é mais caro; a “poluítica”, pelo desprezo ao bem-comum.

É indispensável discernir os políticos dos poluidores sociais; os que tratam de polir e aprimorar a polis dos que tratam de poluí-la com todos os meios, especialmente a falta de uma autêntica ética pública. Os indivíduos e as instituições em geral, incluída a mídia, cumprem papel decisivo ao denunciar a “poluítica”; devem, em igual medida, louvar a política e os políticos dignos desse nome, para que as novas gerações não percam o entusiasmo de se engajar na luta pelo bem maior da coletividade.

É definitiva a linda metáfora de Rubem Alves acerca da diferença entre o bom político, aquele que exerce a política por vocação, e o mau político, aquele que a exerce por profissão: “O jardineiro por vocação ama o jardim de todos. O jardineiro por profissão usa o jardim de todos para construir seu jardim privado, ainda que, para que isso aconteça, ao seu redor aumentem o deserto e o sofrimento.”

Este será um ano pleno de desafios, tão árduos quanto estimulantes, para quem tem como prioridade ajudar a construir condições humanas mais dignas – no Brasil, na América Latina, no mundo.

De que instrumento vamos lançar mão para lograr, na arena internacional, a atuação articulada contra a crise econômica; o estabelecimento de relações comerciais mais equânimes; o comprometimento de todos os países com a redução do aquecimento global; um acordo de paz duradouro no Oriente Médio? E o que temos a nosso dispor para implantar, em âmbito nacional, um modelo-síntese, voltado à coordenação de medidas primordiais, como a manutenção da estabilidade dos preços, a retomada de altos níveis de desenvolvimento econômico, a inclusão social e a sustentabilidade ambiental? A resposta é, sobretudo, uma: a política.

Com vistas ao reforço de uma prática genuinamente política, que nos aproxime desses objetivos, deixo aqui algumas propostas: a) menos fundamentalismo, mais fundamentação – colhida de trabalhadores, empresários, artistas, cientistas, filósofos, dos próprios políticos etc.; b) menos fechamento “ideo-ilógico”, mais abertura dialógica; c) menos espírito rotineiro, mais ousadia e inventividade; d) menos proselitismo, mais ação; e) menos elitismo, mais transparência e parceria com a população.

 

O Deputado Federal Rodrigo Rollemberg (DF) é líder do PSB na Câmara dos Deputados

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