Unanimidade ética

Nelson Rodrigues afirmava: “Toda unanimidade é burra”. Consegui, porém, na Comissão de Ética do Senado, uma unanimidade que não pedi e pela qual nada concedi. Foi um momento de minha vida pública em que, confesso, no auge da chantagem envolvendo meu nome, pensei comigo mesmo: “Ora, se isso for capaz de pôr fim a tudo o que construí nesses anos todos, então que se dane! Vou enfrentá-los!”.

Enfrentei a tropa de choque com a honra e a coragem. E a vi votando entre os que construíram minha absolvição. Foi uma unanimidade ética!

Ninguém pense que vejo no desfecho dessa crise, em que contrapor e vencer o peso político de um ex-presidente da República e atual presidente do Senado, que significa a presidência do Congresso Nacional, represente uma vitória pessoal. Para mim, essa é a expressão de conquistas como a defesa do Pólo Industrial de Manaus – com a consagração da tese de que se trata de um instrumento de preservação da Floresta Amazônica – e de meu projeto para criação da ZPE (Zona de Processamento de Exportação) de Itacoatiara, aprovado no Senado e que, se tiver o mesmo destino na Câmara dos Deputados, se destinará à exploração da silvinita.

É a força com a qual haveremos de implantar a ZPE de Tabatinga, um canal desaguadouro da produção pesqueira, da biodiversidade e do potencial indígena de todo o Alto Solimões, que, igualmente, tive a honra de apresentar e obter a aprovação do Senado.

Fui ao plenário da Comissão de Ética. Derrubei cada “argumento” contra mim, com base na legislação, nas jurisprudências firmadas, nos costumes sócio-políticos e na ética. Enfrentei a máxima de que “o óbvio não se prova” e provei o óbvio de minha inocência.

Colhi, inclusive entre adversários, depoimentos surpreendentes. O senador Flávio Arns (PT-PR) disse, no encerramento da sessão: “O senhor dá ao País uma das maiores provas de integridade moral e ética. Gostaria de ser amazonense para votar no senhor. Recomendo ao povo do Amazonas que não deixe jamais de fazê-lo”.

O que isso tudo muda em minha postura? Nada. Não me movo por circunstâncias. Nenhum político jamais devolveu dinheiro ao erário. Nunca. Eu devolvi mais de R$ 300 mil, apesar de não ter cometido crime algum. O único “crime” é que não pedi licença à direção do Senado para que um funcionário de meu gabinete estudasse no exterior – em proveito dele e não meu.

Sarney não enfrentou a acusação fundada que lhe fizemos. Eu olhei nos olhos de cada um dos integrantes do Conselho de Ética e, assim, refutei as acusações artificiais que me fizeram.

Minha preocupação agora é não abandonar um milímetro a luta pela qualidade e limpeza do Senado. Não adiantaria de nada o atestado de inocência, que obtive, se não trabalhasse no dia-a-dia no enfrentamento da crise. O presidente Sarney está cansado de saber que, por mim, não seria presidente do Senado. Não posso, porém, concordar que isso se transforme num motivo de paralisação da Casa. Pretendo apontar cada erro dele, sem nada deixar passar, mas, terça-feira, numa reunião da bancada do PSDB agendada previamente, pretendo recomendar que voltemos a votar, para desafogar a pauta.

O Brasil e o Amazonas podem contar, sempre, com o melhor de mim.

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