De volta ao passado

Cresce no PT a política dos fatos consumados, decisões que vão sendo tomadas sem levar em conta o palanque nacional e a candidatura da ministra Dilma Rousseff à presidência. Todos concordam que a sucessão do presidente Lula e um terceiro mandato têm nome e título de eleitor: eleger Dilma.

Na prática, o que estamos assistindo nos estados mais importantes do país é o contrário. Começando por São Paulo, onde não há sequer um diálogo com nossos aliados, PSB, PDT, PC do B. Tanto a executiva estadual quanto a bancada já decidiram pela candidatura própria. No caso da bancada, 14 dos 19 deputados indicaram até o candidato, o prefeito reeleito de Osasco, Emídio de Souza. Perdemos a oportunidade de organizar uma mesa com nossos aliados, Dr. Helio, do PDT, Ciro Gomes, do PSB, além do PC do B, nosso aliado desde a Frente Brasil Popular em 89.

Mesmo a pré-candidatura de Paulo Skaf, presidente da FIESP, provavelmente por um dos partidos aliados ao PT, merecia de nossa parte pelo menos uma visita de cortesia e troca de informações. É fato que a direção estadual do partido e suas lideranças e parlamentares têm reunido a militância e realizado caravanas pelo estado, debatendo um programa alternativo à gestão tucana e procurado a unidade do partido na busca de um candidato, a partir das pré-candidaturas de Antonio Palocci, Emídio de Souza e Fernando Haddad para o governo, e Aloísio Mercadante para o Senado.

No Rio de Janeiro, na prática, Lindeberg Farias, prefeito reeleito de Nova Iguaçu, constrói sua candidatura ao governo e defende abertamente três palanques para Dilma Rousseff: o dele, o do ex-governador Garotinho, pelo PR, e o de Sergio Cabral, pelo PMDB. Rio e São Paulo se iludem, achando que os demais partidos já decidiram pelo apoio a ministra Dilma e o farão mesmo que o PT não os apoie em suas demandas regionais de suporte a seus candidatos.

Em Minas Gerais, o partido está imobilizado, não pode avançar em alianças ou candidaturas. A disputa pela direção do Diretório Regional entre as correntes políticas alinhadas com Fernando Pimentel, ex- prefeito de BH, e Patrus Ananias, ministro do Desenvolvimento Social, domina o debate e a mobilização partidária, sem que isso signifique que não haja diálogo com o PMDB, que tem o ministro e senador Hélio Costa como pré candidato.

Não se trata de divergências pessoais entre as duas lideranças nem da disputa da candidatura ao governo do estado, mas de visões e táticas políticas e eleitorais diferentes que envolvem a relação com o PMDB e com o PSDB, que remontam a eleição do prefeito da capital, no ano passado, quando o PT aliou-se ao PSB e ao PSDB, e o PMDB teve sua própria candidatura, política que não teve o aval de Patrus Ananias e daqueles que o apóiam.

A esses três estados mais importantes do país, soma-se a situação no Rio Grande do Sul, Acre, Pernambuco, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina, onde a aliança com o PMDB é improvável até porque o PMDB nesses estados não a aceita.

No Pará, Bahia, Paraná, não será fácil nos recompormos com o PMDB; precisamos manter nesses estados a aliança que nos levou à vitória na Bahia e Pará e à reeleição de Roberto Requião no Paraná. Podemos e devemos vencer no Norte e Nordeste, podemos vencer no Sul e no Centro Oeste, ou pelo menos empatar, mas a eleição se decidirá em São Paulo, Minas e Rio, daí a importância do diálogo da direção nacional do partido com suas direções estaduais ou mesmo a disputa aberta e transparente para convencer a maioria do partido do que está em jogo.

Pelo andar da carruagem petista nos estados, começo a me convencer de que estamos caminhando para uma política de alianças de fato sem o PMDB, que além de contrariar decisão nacional do partido, considero um grave erro, já que parte do princípio que já temos o apoio do PSB, PDT, PC do B, além do PR, não leva em conta nossa tática de eleger senadores e deputados e não prioriza a eleição nacional nos três principais estados do país.

* José Dirceu é ex-ministro da Casa Civil

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