Duas táticas?

Numa disputa presidencial não se pode ter duas táticas. Não tem como construir uma candidatura, a de Dilma Rousseff e, ao mesmo tempo, começar a seguir outra tática, a do terceiro mandato do presidente Lula. O confortável da nossa situação é que a candidatura Dilma Rousseff, com o apoio do presidente Lula, do PT e de aliados, tem tudo para vencer as eleições. E reparem que eu tenho acertado em minhas previsões. Previ que antes do São João ela ultrapassará Aécio Neves nas pesquisas de intenção de voto. Ela já deve estar empatada com ele na espontânea, e tem toda as condições para alcançar José Serra antes do início de 2010, ano da eleição.

Um terceiro mandato depende de uma emenda constitucional, seja para aprovar o direito de o presidente Lula disputar mais um mandato, seja para convocar um plebiscito ou uma consulta popular. Em política, isso nunca deu certo. A não ser quando se tenha hegemonia e uma correlação de forças favoráveis, maioria segura no parlamento, apoio popular, poder de mobilização, e disposição de enfrentar a resistência que, seguramente, a oposição fará com apoio da mídia conservadora. A imprensa, inclusive, já levantou e tentou criar esse factóide como uma vacina para demonstrar antecipadamente sua disposição de impedir a qualquer custo toda iniciativa nesse sentido.

Outro ponto a ser levado em consideração é o momento que o país vive. Superamos a turbulência decorrente da crise internacional com medidas que, seguramente, dão ao Brasil condições de retomar o crescimento e a criação de empregos já no último trimestre deste ano, e de crescer mais de 3% no próximo. Nesse sentido, a nação necessita concentrar-se na superação da crise e o governo, na administração das demandas. No caso da administração federal, na implementação das obras do PAC, requerendo um esforço maior que exige governar com queda de arrecadação e do crescimento.

Assim, num momento como este, de consolidação da candidatura Dilma Rousseff no PT e no eleitorado, quando aumenta sua taxa de conhecimento (até agora só metade dos eleitores sabe que ela é a candidata do presidente) e quando os aliados começam a apoiá-la, não podemos, de forma alguma, conciliar – sequer permitir – que se comece um movimento por um terceiro mandato para o presidente Lula.

O presidente tem declarado para quem quiser ouvir que não aceita e não quer nenhum movimento a favor de sua continuidade no governo, o mesmo ocorrendo com o PT, cujo diretório nacional, inclusive, tomou uma decisão nesse sentido.

Mesmo que essas iniciativas pró-terceiro mandato não tenham apoio ou sustentação no Congresso Nacional, que sejam posições individuais de parlamentares de alguns partidos, sem apoio de suas direções e lideranças, não devemos subestimar o prejuízo que podem provocar à pré-candidatura de Dilma Rousseff e ao PT. É preciso pôr um fim e impedir o prosseguimento desse movimento enquanto é tempo, antes que comecemos a trilhar um caminho sem volta – o das duas táticas, esta sim uma rota segura para a derrota.

José Dirceu é ex-ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República

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