É tempo de Páscoa

É tempo de Páscoa e me vejo entre minha gente mais simples. Aqui existe o silente respeito pelo evento cristão, abrindo espaço para refletir sobre a mensagem redentora transmitida desde a saída dos hebreus do Egito, até a morte e ressurreição de Cristo.

No Velho Testamento, Páscoa é lembrança da morte dos primogênitos egípcios, como golpe final na opressão do Faraó – a quem todas as outras pragas não foram capazes de sensibilizar -, e a preservação dos primeiros do povo de Deus. No Novo Testamento, Páscoa é a celebração da ressurreição de Jesus no terceiro dia, após o calvário, o escárnio, a terrível morte de cruz.

O ser humano vive além da própria vida. Tanto pelas promessas bíblicas, quanto pela construção de uma trajetória fincada em gestos públicos marcantes, capazes de distingui-lo, torná-lo admirável e inseri-lo na História.

É esse desejo arrebatador de eternidade que move os grandes vultos. Alexandre, O Grande, tornou-se conhecido pelas vitórias de seu exército, mas, sobretudo, pela disseminação da cultura e arte helenísticas no mundo que dominou, sem se importar com o fato de elevar a mesma Grécia responsável pela discriminação e subjugação de sua querida Macedônia. A denúncia da preparação de Adolph Hitler para a II Guerra Mundial, solitária, embora precisa, custou a Winston Churchill um ostracismo do qual só sairia quando as primeiras invasões alemãs já haviam acontecido e o tempo para combatê-lo praticamente se escoara.

Gestos extremados. Grandes. Marcantes. Mas Páscoa é humildade. Afinal, o ser humano jamais alcançará a dimensão de um Deus que poupou tantos primogênitos e sacrificou o único filho pela humanidade.

Páscoa é esperança, sem a qual não seria possível acreditar na superação da miséria provocada pelo subdesenvolvimento. É manter a vigilância acesa sobre a aplicação correta das verbas públicas, mesmo representando uma gota d’água no oceano de corrupção que drena o esforço de tanta gente séria.

Como lutar contra os cinturões de favelas que cercam as grandes cidades, sem a firme esperança de que é possível recuperá-las? Sem fé, não dá para manter o moral elevado, mesmo ouvindo, lendo e vendo na TV os massacres entre policiais, traficantes e vítimas de balas perdidas, numa cidade como o Rio de Janeiro, cuja natureza a fez reconhecida como Maravilhosa. E ainda mais ao constatar que tal estado de coisas aproxima-se perigosamente da disseminação de Norte a Sul, bastando olhar a crônica policial, de Manaus a Porto Alegre.

O mundo está sob provação, no contexto da crise mundial. O Pólo Industrial de Manaus (PIM) perde empregos aceleradamente. A Suframa acaba de divulgar números bem mais conservadores que os apresentados pelo Sindicato dos Metalúrgicos, que fala em 27 mil demissões sem reposição. E ninguém aborda o Pólo Químico, fora da latitude dessa representação sindical, sem incentivo governamental e demitindo acelerado.

O faturamento do PIM como um todo despencou US$ 1,7 bilhão, nos dois primeiros meses do ano. É reflexo de um empresariado assustado, incrédulo diante de medidas insuficientes para resolver a crise e que meteu o pé no freio do chão de fábrica, talvez até além do necessário, em busca de proteger o patrimônio.

Perdemos os melhores anos da economia internacional, mas não podemos perder a fé. Com a inflação em queda, o governo tem mais espaço para derrubar os juros. Os bancos estabelecidos em território nacional foram blindados na gestão do Presidente Fernando Henrique Cardoso, graças à execução do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer), tão criticado à época e hoje motivo de admiração mundial. O brasileiro, além do mais, não desiste tão facilmente.

Páscoa, afinal, é tempo de reflexão e correção de rumos.

Desejo a todos os amazonenses, nascidos ou que aqui vivem por opção, um feliz Domingo de Páscoa. Vamos cercá-lo de memória, reflexão e esperança. Busquemos no exemplo divino o alento para a batalha contra o mal e os maus, sem abrir mão nenhum segundo da possibilidade de trazê-los para o lado do bem e dos bons.

Jesus venceu a morte. A vitória é possível.

 

Arthur Virgílio é líder do PSDB no Senado.

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