Fusão ou confusão?

Por César Maia

Quando dois sistemas se integram, tal fusão pode ser sinérgica (maior que a soma das partes), neutra ou disfuncional (menor que a soma das partes). A fusão de dois partidos políticos só é um processo simples quando o tamanho de um deles é insignificante perto do outro. A isto melhor seria chamar de assimilação.

Mas quando dois partidos se equivalem, a fusão é um processo complexo, ainda mais num país continental. No Brasil, alguns partidos substantivos surgiram por processos de desagregação, como o Republicano (no Império), o PSDB (saído do PMDB) e o DEM (saído do PDS).

Este é também um processo simples, porque as partes homogêneas de um partido se separam para formar outra legenda. Não é sem razão que no Brasil, durante o Império ou a República, nunca ocorreu fusões entre partidos políticos substantivos. A complexidade ocorre pelo tectonismo das partes (das placas).

No que se refere às direções nacionais, sempre haverá como compor. Mas quando os espaços de cada dirigente começam a ser definidos, termina a simplicidade. Isso sem falar nas estruturas administrativas de cada um.

Ao se desdobrar isso em níveis estadual e municipal, há muito mais. Além disso, existem as listas de vereadores por município, deputados federais e estaduais por Estado, cuja agregação produzirá riscos maiores ou menores para centenas de parlamentares.

Há ainda os espaços de liderança a serem definidos. E também, em todos os níveis, os órgãos de representação especial, como imprensa, institutos e fundações.

Tal decisão produziria uma redução pela metade das lideranças no Congresso, nas Assembleias e nas Câmaras Municipais, assim como nas estruturas respectivas. E também no uso dos microfones.

A nova legenda, independente da denominação que mantenha, terá que incorporar os programas de ambos. As diferenças desses programas abrirão uma luta ideológica, de saída, no novo partido.

Finalmente, a legislação eleitoral permite, havendo fusão de partidos, que os legisladores (vereadores, deputados, senadores) e os executivos (prefeitos e governadores) que se digam prejudicados mudem de legenda.

Não é preciso analisar no detalhe para saber que alguns deputados federais e vários deputados estaduais e vereadores usarão essa circunstância para mudar de partido, sem os enormes riscos de uma nova legenda. O partido fundido ficará parlamentarmente menor que a junção das partes. Só soma tempo de TV e Fundo Partidário, o que também vai gerar atritos pelo uso.

Isso tudo leva a uma enorme disfunção ou tectonismo. Repetindo: no Brasil -no Império e na República- nunca houve fusão de dois grandes partidos. Haverá a primeira?