Afrânio Castro, um talento que se foi cedo demais

Afrânio Castro, ao lado de Moacir Andrade, foi um dos maiores talentos na pintura amazonense.

Morreu cedo. Era uma figura singular. Ele e Moacir disputavam espaços e os amigos viviam, na brincadeira, jogando um contra o outro. Nada mais irritava qualquer um dos dois quando alguém a quem estivessem mostrando uma tela dissesse que estava bonito, mas era bom levar para o outro retocar.

Afrânio tinha uma capacidade enorme de colocar apelidos nos amigos. Lembro-me de alguns. Aluisio Sampaio ele chamava de Coronel Farofa. Mário Antonio, que era muito magro, ele apelidou de Carapanã de Biafra.

Certa feita apelidou até o carro do Jorge Rezende, um Galaxie enorme, no qual andavam sempre juntos Benedito Lira, Domingos Demasi, Cosme Haiek, Ribamar Afonso e Otílio Tino. Ele chamava a Nau dos Machos Tristes.

Nos anos 60, era assíduo freqüentador da República Livre do Pina, o café do Pina, bem em frente ao Cine Guarany. O Abrahim Aleme tinha acabado de voltar do eixo Rio de Janeiro e Brasília e usava óculos escuros que cobria boa parte do rosto. Ele imitava com perfeição a fala de um gringo querendo falar português. Os freqüentadores do Pina resolveram pregar uma peça no Afrânio, já que ele não conhecia o Aleme e tinha um navio de turistas no porto.

Foi assim. O Abrahim ficou na Praça da Polícia e quando o Afrânio chegou disseram-lhe que um gringo tinha estado à procura dele. Queria comprar uma tela do pintor famoso e que pagaria em dólar. Os olhos do Afrânio brilharam. E lá chega o Abrahim, com seus óculos. Aí, os outros fizeram o teatro:

– Mister, este é o Afrânio Castro, o maior pintor do Amazonas.

– Ohhh, seeenhoooooorr Afraaaanio Caaastro, muuuito prazer. Seeeenhoooor muuuuito famoso na Améeerica. Quero cooomprrar um quadro seu. Onde estão seuus quadros? Quanto custa em dólar?

– Não os tenho aqui, mas vou buscar na minha casa.

E saiu para buscá-los.

Só que as pessoas foram embora e o Abrahim Aleme ficou no Pina. Quando o Afrânio chegou, veio pelo outro lado e flagrou o Aleme sem óculos, falando normalmente português.

Armou a maior confusão, deu uma carreira no Aleme e falou mal de todo mundo com justa razão.

One thought on “Afrânio Castro, um talento que se foi cedo demais

  1. Vendo um quadro legítimo do grande Pintor Afrânio de CAstro, se interessar entrar em contato com meu e-mail. Agradeço

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