A ausência do Estado

Eu, o deputado Marcelo Serafim e os vereadores Marcelo Ramos e Elias Emanuel fizemos uma viagem pelo interior do estado com o objetivo de visitar companheiros do nosso partido, o PSB, bem como conhecer mais de perto os problemas que afligem o nosso povo. Foram oito dias de contato direto, mais de 2.000 fotos, 20 horas de imagens, outro tanto dentro de um hidroavião Caravan de oito lugares e a constatação do mais absoluto abandono.

Nessa primeira fase, visitamos os municípios do rio Solimões e os mais próximos da calha. E a constatação foi a da ausência do Estado. Não é que seja ruim, em alguns lugares o pouco que tem não funciona, mas a principal característica é a ausência, ou seja, em muitos lugares simplesmente o Estado não existe. Em alguns municípios o isolamento é total. Nem mesmo a televisão chega.

Em Japurá, o mercado municipal está fechado no cadeado, cheio de teias de aranha. Lá tem a obra de um hospital parada há muito tempo. Existe uma enorme placa dizendo que o prazo de conclusão é de 120 dias, mas não existe a data a partir da qual o prazo deva ser contado. O atual Governo, que se vangloria de ser rápido, dá uma mostra da sua lerdeza, pois há sete anos e um mês não conclui a obra.

O mercado municipal de Japurá, fechado a cadeado
O mercado municipal de Japurá, fechado a cadeado
7 anos de governo, e nada do hospital ser entregue
7 anos de governo, e nada do hospital ser entregue
A placa da construção da obra
A placa da construção da obra

A energia elétrica, embora agora haja uma movimentação com a terceirização dos seus serviços pela Amazonas Energia em favor da Oliveira Energia, do empresário Orsine Oliveira, ainda está muito longe de manter a regularidade dos serviços. As reclamações são constantes. Em Maraã, por exemplo, dividiram a cidade em áreas, cada uma com seis horas de energia por dia. Pra ficar ruim precisa melhorar muito.

Maraã: movelaria não produz nada por falta de energia
Maraã: movelaria não produz nada por falta de energia

O Bolsa Família, que é uma ancora no campo social, está bastante prejudicado pela transferência para comerciantes do seu pagamento, ao invés de ser feito nos Correios, nas lojas lotéricas ou nos bancos existentes. Para se ter uma idéia, em Fonte Boa, município que há trinta anos está sob o comando dos Lisboa ou dos Lins, o Governo Federal delegou a um comerciante dono de uma loja chamada “Coração Blue” o pagamento do Bolsa Família. Ele aproveitou e reeditou um “barracão” da época da borracha. Para o beneficiário receber R$ 70,00 tem que comprar na loja R$ 50,00 e levar em dinheiro apenas R$ 20,00. E lá o quilo do arroz é R$ 4,00.

"Barracão da borracha": Fila para receber o Bolsa Família em Fonte Boa
"Barracão da borracha": Fila para receber o Bolsa Família em Fonte Boa

Ministério Público não existe no interior, seja pela ausência física dos promotores, seja pela falta de iniciativa onde existe alguém. Um bom exemplo é Codajás. Na entrada da cidade há uma enorme placa com as fotos do Governador e do Prefeito, caracterizando propaganda pessoal, mas o Ministério Público, mesmo quando existia, não fez nada. Ao lado da placa, outra enorme, dizendo que o Governo do Estado está fazendo o sistema viário, mas quando se entra na cidade ela está pior do que o Haiti. A empresa, comenta-se na cidade, seria de propriedade de laranjas de deputados.

Codajás: o Haiti é aqui
Codajás: o Haiti é aqui

O Judiciário também está ausente. Os juízes não estão ficando em suas comarcas. Se as cúpulas do Ministério Público e do Poder Judiciário desconhecem esse fato, eu o estou noticiando como constatação no local, pedindo que se eles tiverem alguma dúvida a respeito mandem alguém aos municípios, obviamente que sem avisar, que vão constatar exatamente o mesmo que nós constatamos.

O abastecimento de água é, como regra, precário. Em Tonantins não há rede, e embora tenha um reservatório, ele nunca recebeu uma gota de água. O Governo Braga está chegando ao final e não colocou um único tostão no interior para resolver o problema que é dos mais graves.

Tonantins: A caixa d'água que nunca deu água
Tonantins: A caixa d'água que nunca deu água

O destino final do lixo no interior é um dos mais graves problemas de saneamento básico e do meio ambiente, sem que haja qualquer ação por parte do Governo. Outra ausência total. Em Maraã, existe uma enorme lixeira no que seria um campo de pouso de aeronaves que, por razões óbvias, não funciona.

Caapiranga: Enorme lixeira a céu aberto
Caapiranga: Enorme lixeira a céu aberto

Os portos, tão necessários, simplesmente não existem. A propaganda feita em Manaus é mentirosa.

Santo Antônio do Içá: O porto que não existe
Santo Antônio do Içá: O porto que não existe

Outro ausente é o DETRAN. Os mototaxistas, que são o único meio de transporte nos pequenos municípios, não têm carteira de habilitação porque não existe DETRAN. Para tirá-la, eles têm que vir a Manaus. Isso é o fim da picada.

A telefonia celular, dentro da proposta de universalização, está chegando ao interior. Onde a vencedora foi a VIVO as coisas estão mais adiantadas. Onde foram outras, a lentidão é total. Cabe à ANATEL cobrar dessas empresas que ganham rios de dinheiro nas grandes cidades, obrigaram-se por força de contrato a levar a telefonia aos municípios menores, mas não estão cumprindo com a parte que lhes cabe.

Os prefeitos enfrentam dificuldades, principalmente pela falta de um órgão estadual que lhes dê suporte, sobretudo nas questões burocráticas, quanto à liberação de verbas por parte do Governo Federal. Quase todos têm problemas no chamado CAUC, e por isso não conseguem receber recursos. Existem municípios há mais de um ano nessa situação. No passado existia o ICOTI, órgão estadual que assessorava os prefeitos, mas ele foi extinto.

Como regra os prefeitos são pessoas dedicadas, precisando de ajuda e orientação. Existem, no entanto, alguns que são absolutamente irresponsáveis, como é o caso do prefeito de Caapiranga, que mora em Manacapuru ou o de Codajás, que viaja todos os meses levando consigo o vice e o presidente da Câmara para que o Juiz assuma a Prefeitura, numa distorção que deve ser apurada pela Desembargadora Socorro Guedes, Corregedora do TJAM, ou pelo CNJ.

Gostei do que vi no Careiro Castanho, sob o comando do Prefeito Joel Lobo. Cidade organizada, Prefeitura em condições de receber recursos federais, inclusive destinatária de um Centro de Inclusão Digital que, com 70 computadores, vai atender a juventude do município.

Careiro: Centro de inclusão digital para 70 computadores
Careiro: Centro de inclusão digital para 70 computadores

Agradeço a todos, companheiros ou não do PSB, que nos receberam com tanto carinho. Isso nos dá força para continuarmos caminhando, conhecendo melhor, para construirmos uma proposta de futuro bem melhor para o Amazonas.

O carinho dos amigos de Coari
O carinho dos amigos de Coari

Obrigado a todos.

6 thoughts on “A ausência do Estado

  1. Os problemas crônicos do interior do Estado são resultados de uma divisão territorial burra. O Estado, principalmente o do Amazonas, um Estado pobre, não consegue atender os municípios. Serafim você governou Manaus, uma cidade com orçamento da ordem de quase R$2 bilhões e viu a dificuldade.
    Nem Gilberto, nem Amazonino, nem Braga nem Alfredo e nem você vão melhorar o quadro que tu vistes pois o problema e a divisão, com municípios como Japurá com mais de 1.000 KM em linha reta e 1.198 KM em linha fluvial.

  2. Pô Sarafa! É realmente uma tristeza vermos essas coisas. E ficamos ainda comovidos com o que acontece em outro país. É claro que no Haiti é um problema que julgo de emergência. Porém, parece paradoxal também vermos um governo ficar de braços cruzados para uma situação que está aqui… embaixo de nossos olhos.
    Sarafa, acho que lições foram aprendidas em sua gestão, principalmente no “ser um pouco mais político do que pai” no bom sentido da política, é claro… O seu sucessor, o qual o nome nem prefiro dizer, perde o tempo atacando a tua gestão em vez de pelo menos cumprir a metade da metade do que ele prometeu. Cadê a tal da carreta com a internet? Cadê a escola particular de graça? Que ele prometeu em pleno debate, olhando para a câmera ainda!
    Cara… vai começar tudo de novo? Será que não nos livraremos mais desse manipulador de pobres desinculturados?
    Cara… candidate-se para o que for… mas meu voto é teu. Pra mim chega de roubalheira e de ver esse artista de ovelhinha com olhar de lobo.

  3. O interior está abandonado. Daqui a pouco a ONU deve mandar tropas para cá devido a calamidade.

  4. Gostei bastante da matéria e é muito bom ter quem mostre aos que vivem na capital a condição dos que vivem aquém da imprensa e da publicidade dos outros candidatos.
    Parabéns,
    um obrigado e um abraço. [Ignore a outra]

  5. NÃO ADIANTA FIRULA NEM MAQUIAGEM. A VERDADE SEMPRE APARECE.
    O INTERIOR DO ESTADO SEMPRE ESTEVE ABANDONADO NA MÃO DO GRUPO QUE TENTA VOLTAR OU SE PERPETUAR NO PODER.
    NÃO DEVEMOS MAIS DAR CRÉDITO A QUEM NÃO MERECE. PRECISAMOS DE SANGUE NOVO, NOVAS DIRETRIZES PARA O ESTADO COMO UM TODO.
    OS ELEITORES QUE VIVEM NA CAPITAL AMAZONENSE DEVEM SE PREOCUPAR, E MUITO, COM O INTERIOR DO ESTADO, POIS SE CONTINUAR O ESTADO DE ABANDONO, O ÊXODO DESSAS ÁREAS CUNTINUARÁ AUMENTANDO, GERANDO AS MAZELAS SOCIAIS QUE JÁ CONHECEMOS.
    CONVERSA FIADA DE RÁDIO E PROPAGANDA ELEITORAL NÃO COLA MAIS. DEIXEM DE FULERAGEM.
    PARABÉNS SERAFIM, POR MOSTRAR A NOSSA REALIDADE TÃO SOFRIDA.[IGNORE O ANTERIOR]

  6. Essa empresa Torres e Construções diz estar instalada na Travessa Jacira Reis, 18, Kissia II. Esse endereço não existe.

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