ZFM, crescimento rural e preservação

Por  Osíris Silva:

Recebi desafiante e-mail de um cientista que muito respeito, ouço e com o qual mantenho regular correspondência sobre temas amazônicas, por cujo intermédio aprendo lições que me possibilitam fortalecer convicções sobre desenvolvimento regional. O texto questiona-me a respeito de prováveis contradições de algumas de minhas colunas, particularmente quanto a posicionamentos sobre a) necessidade ou não de novas reservas indígenas, b) urgência de investimentos em ZEEs visando determinar vocações agroeconômicas da região, c) priorização do potencial da biodiversidade como saída compensatória à perigosa dependência da economia do Amazonas em relação ao Polo Industrial de Manaus (PIM), e d) quanto à indiscutível necessidade de assegurar meios de promover a convivência harmônica entre produção e preservação de nosso ecossistema.

Em outra coluna mais recente, pondera meu interlocutor, “você lembrou que os caboclos são abandonados pelos governos. De fato, este abandono é uma das razões que estão determinando a comunidades de caboclos querer voltar a ser índios. Como você mesmo afirmou, índios muitas vezes recebem mais apoio do governo federal do que caboclos. Então, como pode ser contra novos territórios indígenas? Entenda-se que os territórios indígenas são mais eficientes em manter a floresta em pé do que as unidades de conservação. Você tem toda razão sobre a necessidade de adoção dos Zoneamentos Ecológico-Econômicos (ZEEs) aperfeiçoados, mas com uma visão de futuro, não da mesmice. Logicamente, entidades representativas do meio rural defendem menos reservas indígenas, pois representam a mesmice e não conseguem visualizar novos cenários. E então? Vai voltar para a mesmice ou continuar a batalhar por alternativas? ”.

Certamente, continuarei minha luta em prol de alternativas desenvolvimentistas. É o meu compromisso maior. A geógrafa Bertha Becker, cujas obras não me canso de estudar, ensina que o desafio do desenvolvimento da Amazônia pressupõe implementar modelo que utilize o patrimônio natural sem destruí-lo, atribuindo valor econômico à floresta. Afirma que o Brasil, no século XX, viveu quatro importantes revoluções tecnológicas: a criação da Petrobras, em 1953; da Embraer, em 1969; da Embrapa, 1973, e a instituição do Proálcool, em 1975. Segundo Becker, a quinta revolução tecnológica brasileira será a da Amazônia. Seu maior desafio será o de considerar “o elemento social nos estudos de conservação, ao mesmo tempo promover o uso, nos modelos de assentamentos rurais, do fator biodiversidade como elemento estratégico de desenvolvimento regional”. Por conseguinte, informações provenientes de pesquisas científicas, ao que defende, devem obrigatoriamente “colaborar com o planejamento do espaço rural, com vistas a equilibrar produção com conservação, voltado à sustentabilidade ambiental”.

Como se há de observar, as premissas aqui consideradas correspondem a vertentes de uma mesma premissa, faces de uma só moeda. Evidentemente, preservar ambientalmente a Amazônia é uma necessidade e uma imposição aos brasileiros e às sociedades desenvolvidas mundo afora. Ao que presumo, todavia, o formato mais eficaz, seguro e sustentável para manter sua integridade territorial reside na promoção de seu pleno e sustentável crescimento sócio-econômico. Economias avançadas, paradigmas econômico-sociais-ambientais do Planeta, como Estados Unidos, Alemanha, Canadá, os países nórdicos, o Japão, a França, a Itália, dentre outros, não sofrem conflitos ambientais de porte. Percebe-se claramente que a sustentabilidade, nesses países, convive pacíficamente com um meio rural social e economicamente próspero,  cultivado em bases tecnológicas altamente produtivas, geradoras de riqueza e bem estar. Além de configurar elemento compensatório à crise que ainda afeta fortemente o setor industrial e o sistema financeiro de algumas daquelas nações. Certamente, a equação que se mantém teimosamente desafiadora ao Brasil.

 

Manaus, 17 de agosto de 2016.