Para que serve o jucá?

Por  José Seráfico:

São muito próximos os registros encontrados no Novo Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, da Mirador, e o Novo Dicionário Aurélio, quanto à palavra jucá. Ambos a têm como um vegetal, da família das caesalpineae ferrea. A origem, anotada pelos editores da Mirador, é tupi, equivalente a matar, sendo que um dos grupos dessa etnia também recebe o mesmo nome, jucá. Os tacapes desses indígenas era feito da madeira, devido à sua dureza, responsável pela qualificação recebida por essa espécie de caesalpinea – férrea, como dito acima. À margem esquerda do rio Jaguaribe era ocupada pelos jucás.

A tudo isso, a Mirador acrescenta o fato de ser o jucá, uma leguminosa, também chamado pau-ferro. Outras características são apresentadas pela Grande Enciclopédia da Amazônia (AMEL- Amazônia Editora Limitada), de Carlos Rocque, na página 958 do quarto volume: infusão das cascas da espécie servem ao tratamento de afecções pulmonares. Sabe-se, além do que os livros indicados registram, de sua serventia para a cura de outros males humanos.

A pobre descrição acima, se não permite conhecimento profundo sobre essa espécie componente da riqueza florestal brasileira, favorece os que padecem de algum dos males a que se pode aplicar o jucá. Dores abdominais, rouquidão, e algumas doenças do aparelho respiratório apresentam melhoras, quando submetido o paciente a generosas doses do jucá posto em infusão ou, nos casos de afecção da garganta, a gargarejos.

Há quem imagine possível usar a caesalpinea para outros fins. Certo que sem grande comprovação científica de êxito, nem por isso descartável. Afinal, o uso da espécie, razoavelmente difundido na Amazônia – e não só nos seus sertões -, padece também de vigorosa validação científica. Isso é assunto que o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia- INPA pode dizer melhor.

Talvez armas substitutas do tacape dos tupis possam ser reintroduzidas no mercado, nestes tempos de volta à barbárie. Que há tentativas de fazê-los novamente úteis, não se pode duvidar. Se haverá caesalpinea suficiente para dar conta das hostilidades em que serão usados os novos tacapes – eis a grande dúvida. Um inventário florestal, inspirado em outros inventários muito em voga nos dias que correm pode ser a grande providência.

Pode-se duvidar, igualmente, de que os males (que não afetam os pulmões, nem a garganta das pessoas) e os inimigos a enfrentar sejam imunes a gargarejos e bochechos. A golpes de tacape torna-se difícil derrubar a lei e seus juízes. Bastará aos hostilizados erguerem a espada emprestada a Dâmocles, para a ameaça pairar sobre a espécie.

A porção territorial dos jucá (margem esquerda do Jaguaribe), suscita outra dúvida, sabendo-se que nem todo marginal está desse lado. Mais um problema para a ciência resolver.