Polo Naval, dá para acreditar? Parte II

Por  Alfredo MR Lopes,  alfredo.lopes@uol.com.br

Os recentes escândalos revelados  pela mídia apenas confirmam a hipocrisia generalizada e banalizada – maniqueísta e irracional –  com a qual corremos sério risco de nos acostumar. Vetos ao Polo Naval, BR 319, Avenida das Flores, quaisquer iniciativas que mexam com o bolso dos bacanas…, é imensa a lista das restrições impostas pelos órgãos ambientais, patrimoniais e que tais, muitos deles vendedores frequentes de dificuldades na perspectiva, às vezes descarada, de facilidades. Chamam a atenção  os vetos de PPB, processos produtivos, dos novos produtos para o polo industrial, onde os censores se declaram na pratica mais legais do que a Lei. Curiosamente, há vetos em que empresas vinculadas ao núcleo do poder político manipulam a proibição através dos censores de plantão. No caso dos novos itens, o veto se dá mesmo que a Constituição proíba apenas 5 itens para instalação no polo incentivado industrial de Manaus: armas, munições, fumo, perfume e automóveis de passeio. Falta pudor, sobra hipocrisia. E fazemos de conta que é assim mesmo…

O polo naval de Manaus, na verdade, não deve sair do papel porque, além “das 19 (ou 29?) comunidades tradicionais que ali vivem” – que devem efetivamente ser ouvidos, pois padecem de demandas efetivas de saúde, educação, moradia e segurança –  o governo estadual ou eventuais parceiros privados não vão ter bala, digo, Plata, na agulha ou na burra, para pagar as indenizações milionárias que os magnatas da região vão cobrar pelas indenizações de suas glebas no entorno do projeto. Indenização, aliás, foi transformada em mecanismo frequente de subtração dos recursos públicos. Ex-executivos de alto escalão do estado, magistrados aposentados, empresários e companhias  ali mantém luxuosos refúgios e  disputam a beleza da região e a veracidade de suas escrituras. Eles não vão abrir mão de suas estâncias para a modernização industrial dos estaleiros da orla de Manaus. Da Ponta Negra ao Puraquequara, o que mais se vê, a partir do rio, é o caos da indústria mais antiga da Amazônia, os estaleiros regionais. Sem licenças nem questionamentos dos poderosos fiscais, eles geram emprego, renda – alguns muita poluição ambiental-  e  metade deles usufrui  da sonegação permitida pela informalidade. Outros, declaram abertamente o “ caminho das pedras para a formalização sem embaraços”.  Enquanto isso, os arautos fortuitos do meio ambiente, aqueles que se mobilizam apenas sob o foco da autopromoção e circunstâncias, viram de costas para o caos urbano e cotidiano instalado na orla de Manaus, se lixam literalmente com a ordenação da ocupação antrópica, aloprada e predatória da informalidade de alguns estaleiros, nem cobram medidas socioambientais  compensatórias para as grandes empresas de construção naval ali instaladas.

Se navegar é preciso, como recomendam os alucinados viajantes lusitanos, é preciso  parar para acertar antes de desembarcar neste enrosco chamado construção do polo naval. Parar  para, abertamente, desmobilizar a hipocrisia de suas proibições, como a que vetou, recentemente, a BR319, a rodovia, já existente, que liga Manaus ao resto do Brasil. Esta rodovia, segundo a Rede Globo, ou  Amazônica, foi dinamitada anos atrás para complicar sua recuperação. E, segundo o DNIT, órgão do ministério dos Transportes, não param em pé as proibições ambientais do governo contra a BR 319. “Eles temem as pressões internacionais e não querem repassar os recursos necessário para o empreendimento”, diz o titular regional do Departamento. Quem lucra com isso? Quem financia o ambientalismo de ocasião, quem explodiu o leito da tal estrada, quem manipula a boa vontade de alguns procuradores e a má-fé de outros, empenhados nos sucedâneos dos vetos? Hipocrisia tem limite. Na TV, o procurador da República, Daltan Dallagnol, coordenador da Força-Tarefa da Operação Lava-Jato, além das 10 medidas de combate à corrupção, sugere o combate da hipocrisia, ao lembrar que a roubalheira impune no Brasil ocorre com PT, PSDB, e já foi objeto de alerta do padre Antônio Vieira, no século XVI: “…eles não querem nosso bem e sim nossos bens!”.