“Braga e Melo são a mesma face da mesma moeda”, diz Marcelo Ramos

De ACRITICA.COM:

Pela primeira vez disputando uma eleição para o Governo do Amazonas, o deputado estadual do PSB diz que chegou ao auge de seu amadurecimento político e pessoal, por isso não teme o novo desafio

29 de Junho de 2014

Por LÚCIO PINHEIRO

 

Marcelo Ramos (Euzivaldo Queiroz )

Um político que não carrega no DNA nem um pingo dos genes do grupo que comanda o Amazonas há mais de três décadas. É assim que o candidato do PSB ao governo, deputado estadual Marcelo Ramos, vai se apresentar ao eleitor a partir do dia 6 de julho, quando, oficialmente, a campanha eleitoral começa.

Na entrevista a seguir, concedida ao A CRÍTICA no dia 11, quando muitas das alianças ainda não estavam fechadas, o deputado falou das razões que o levam a ser candidato, dos porquês que nomes como Rebecca Garcia, Henrique Oliveira e Hissa Abrahão não podiam ser considerados alternativas a Eduardo Braga e José Melo e apresenta, em planos gerais, seus planos para o Amazonas.

O que lhe motiva ser candidato e arriscar ficar sem mandato?

Não posso dizer que estaria eleito deputado, mas na ordem natural das coisas eu voltaria para a ALE, sim, pois tenho um mandato consistente, reconhecido por parcela importante da população. No entanto, cheguei a um nível de maturidade que penso que não é a política que deve servir ao político. Os políticos não devem decidir o que fazer na vida pública levando em conta o que é mais fácil ou cômodo. Devem fazer o que o momento histórico exige deles. E eu e uma parcela importante da sociedade entende que chegou a hora de oferecer uma alternativa real de mudança a esse grupo que governa o Amazonas há 32 anos.

Porque a deputada federal Rebecca Garcia (PP), o deputado federal Henrique Oliveira (SDD) e o vice-prefeito Hissa Abrahão (PPS), por exemplo, não podem ser vistos como alternativas?

Tenho muito carinho por alguns deles, em especial pela Rebecca. Agora, efetivamente, todos eles têm esse grupo que governa o Amazonas no seu DNA. O que não encaixa é isso. É o fato de que no DNA deles está o mesmo grupo que eu combato desde que me entendo por figura pública.

É possível governar sem fazer acordos e alianças com esse grupo?

Vou governar com os bons militantes do PMDB, com os bons militantes do PSD, com os bons militantes do PP, do PDT, pessoas de qualidade que existem em todos os partidos. E mais: firmar tratativas com qualquer partido que não parta da lógica do fisiologismo. Não é porque a política tem sido assim até aqui que tenho que considerar isso como verdade absoluta e imutável.

Por que esse grupo tem que sair do poder?

Porque esse grupo representa o maior desastre social da história do Amazonas. E isso quem diz não é o deputado Marcelo Ramos. Quem diz é o Censo de 2010. O Amazonas é o 4º Estado com maior número de miseráveis: 640 mil pessoas vivendo em extrema pobreza; o 4º Estado com maior mortalidade na infância. o 6º pior em educação do País. O Amazonas chegou a marca de 32 homicídios por 100 mil habitantes. Agora em 2014, segundo o Pisa, o Amazonas é o 2º pior do País em proeficiência em Matemática e Português. E o que torna isso mais grave é se você comparar com o quanto cresceu o orçamento do Estado nesse mesmo período. Em 2004, era de R$ 4,5 bilhões. Hoje, vai alcançar R$ 15 bilhões.

As políticas são desastrosas ou não existem?

Na verdade, há erros, desvios de prioridades. Por exemplo, o Amazonas não tem um porto público decente, mas tem uma ponte de R$ 1 bilhão. Não tem esgoto, mas tem uma arena de R$ 700 milhões. Há 47 anos tivemos a instalação da Zona Franca. Hoje seguimos precisando de incentivos fiscais para manter o modelo. Por quê? Porque a situação logística é praticamente a mesma de 47 anos atrás.

Então não houve nenhum avanço?

Continuamos não tendo porto e não tendo ligação rodoviária com o resto do País. O endividamento que o Amazonas deveria ter em infraestrutura para induzir a atividade produtiva foi desviado para obras questionáveis do ponto de vista do desenvolvimento econômico. O Estado se endividou mal. Fora isso, você tem uma política educacional e de saúde, duas áreas muito sensíveis, contaminadas pela politicagem. Diretor de unidade, gestor de escola no interior, não são as pessoas mais capacitadas, são as que servem aos interesses do grupo que está no poder. Isso não tem como dar certo.

Essa condição de dependência do interior contribui para a manutenção desse grupo no poder?

Com certeza. Estamos falando de um grupo que não tem coragem de empoderar os municípios. Pelo contrário, historicamente trabalhou para fragilizá-los. Depois distribui as coisas para os municípios a conta-gotas, de acordo com os interesses eleitorais. Há uma lógica perversa de fragilizar os municípios para que eles fiquem dependentes e o governo utilize isso como instrumento de poder.

Por falar em prioridades, em que condições a realização da Copa traria benefícios concretos para Manaus?

A Copa é uma frustração no Brasil por conta da corrupção, dos gastos exagerados. Na cidade de Manaus ela é uma frustração agravada. Porque no resto do País as pessoas estão dizendo que tudo foi muito caro, mas tudo foi feito, ainda que com atraso. Em Manaus, nada foi feito. Quando venderam a cidade como sede não disseram que iam fazer só a arena.

As manifestações populares do ano passado vão refletir nas urnas nessas eleições?

Não tenho dúvida disso. E tão importantes quanto os movimentos de junho de 2013, são as forças vivas da sociedade que a política insiste em não enxergar. Enquanto o Renan Calheiros (presidente do Senado) está usando a FAB para implantar cabelo no Nordeste, as mulheres de bem estão doando os seus para fazer perucas para pacientes com câncer. É um movimento de mudança que os partidos não enxergam, não são capazes de enfrentar. A hora que as pessoas identificarem quem simboliza essa mudança, pode ter tempo de TV, prefeito de interior, o que for, que não vai segurar essa avalanche transformadora.

O senhor fala de adversários que têm o DNA do atual grupo, mas o PSB já se aliou com os senadores Eduardo Braga e Alfredo Nascimento. Isso não coloca em xeque esse discurso de independência?

Tanto não nos tornamos dependentes que um dia depois da eleição não tínhamos relação nenhuma com o Alfredo. Agora, posso dizer, como experiência pessoal, que aquilo me deu uma grande lição. Eu ganhei aquela eleição, mas o PSB foi derrotado politicamente. Nosso eleitor tradicional não aceitou aquela composição. É uma das coisas que me movem a ser candidato agora. Esse negócio de fingir que briga para se ajeitar lá na frente é da tradição desse grupo. Não posso me acomodar no cargo de deputado e permitir que o povo tenha que escolher entre pessoas que são a mesma face da mesma moeda.

Os pré-candidatos Eduardo Braga e José Melo travaram briga nos bastidores pelo apoio de Amazonino Mendes. O que o ex-governador pode acrescentar a uma candidatura ao governo?

Acrescenta absoluta ineficiência de quem governou Manaus durante quatro anos de uma forma desastrosa. Acrescenta a ideia de velha política e velhos conchavos. E acrescenta a confirmação de que a briga entre eles é apenas uma encenação. O Amazonino representa o que há de mais atrasado na política no Estado do Amazonas. E ele está do lado de quem pensa igual a ele.

O senhor conversou sobre aliança com o prefeito Artur Neto?

Tive conversas normais, de avaliação de conjuntura. Mas nós do PSB, desde o primeiro passo, escolhemos um caminho que não nos deixa só. Vamos estar ao lado de homens e mulheres de bem que cansaram desse grupo que manda e desmanda no Amazonas. É com eles que decidimos estar.

O que será prioridade em um eventual governo do PSB no Amazonas?

Estamos construindo um projeto de governo que tem um tripé, que é transparência, eficiência e participação. E entendemos que existem cinco pactos necessários e urgentes. O primeiro é o da saúde pública, que está desmontada. No interior não tem nada. O segundo pacto é o da Educação. O Amazonas é o 4º PIB do País, não podemos ser o 20º em Educação. O 3º é o da Segurança Pública. O Ronda no Bairro foi bem concebido, mas muito mal gerido. Falamos também no pacto da Mobilidade. E o principal é o pacto da infraestrutura, que criará condições para que o Polo Industrial de Manaus seja competitivo mesmo com redução dos incentivos fiscais.

Perfil

Marcelo Ramos

idade: 40

estudos:Formado em Direito pela Ufam.experiência: Assumiu o primeiro mandato de vereador em março de 2007, e dois meses depois se tornou presidente do Instituto Municipal de Transportes Urbanos. Em abril de 2008 reassumiu o cargo de vereador, e em outubro do mesmo ano se reelegeu. Em 2010 foi eleito deputado estadual.