Sonho brasileiro

Por Aécio Neves

Dados do Ministério da Justiça indicam uma corrida de estrangeiros em busca de regularização de seu status de imigrantes no Brasil. Os números impressionam: 961 mil pessoas em 2010 e 1,466 milhão só nos primeiros seis meses de 2011 buscaram os guichês da Polícia Federal para obter legalmente o direito de construir sua vida, ou reconstruí-la, entre nossas fronteiras.

O número de brasileiros morando no exterior caiu à metade. Estão minguando as levas de compatriotas nossos sinceramente iludidos com as miragens do “American dream”, e também de algum “European dream”. Eram os filhos para quem a nossa pátria não estava sendo mãe gentil.

Hoje, os excluídos do passado buscam a possibilidade de um novo acolhimento.

Nas duas últimas décadas, a estabilidade econômica, o robustecimento do PIB, ainda que abaixo de nosso potencial, e a consequente abertura de novos horizontes de trabalho tiveram o condão de arrefecer a urgência do exílio forçado.

Ao se constatar, na frieza das estatísticas oficiais, que o Brasil vai readquirindo, 500 anos após o ciclo das descobertas, o endereço de um novo Eldorado, pergunto-me se o sonho dos estrangeiros inspira, como deveria, a alma e a consciência dos brasileiros.

É da natureza do sonho extrapolar as pequenas conquistas do cotidiano, ir além das benesses do consumo e do crediário, tão alardeadas pelos mercadores de ilusão do Planalto, deixar-se levar pela fantasia (desde que alicerçada na realidade) capaz de nos fazer dizer, com orgulho: “Eis aqui o meu lugar, o lugar da minha escolha, o lugar no qual o futuro será capaz de receber afetuosamente as gerações que irão me suceder”.

Se o português, o norte-americano, o boliviano, o coreano aqui desembarcam a bordo da confiança de uma terra de promessas, o que falta ao Brasil para bafejar nossa juventude com a mesma primavera de esperança?

A janela para o sonho, a gente sabe, é a educação. Mas, para muitos de nossos jovens, a janela permanece fechada. Vejam o baixo nível de aprendizado, o alto grau de repetência e o abandono precoce dos estudos, os currículos esclerosados e as escolas pouco atraentes à verdadeira aventura que é o conhecimento.

E não é só isso. O programa Primeiro Emprego, uma das bandeiras da campanha do PT em 2002, ficou muito longe de apresentar os resultados prometidos. O ProJovem, anunciado com pompa e circunstância, seguiu o mesmo caminho e também fracassou.

A inquietude da juventude, no Brasil e no mundo, está clamando: queremos sonhar. A nós nos cabe a responsabilidade de abrir portas e responder: aqui vocês têm as condições para construir esse sonho. Esse é o seu lugar.