Onde está a felicidade?

Por Marcelo Ramos

Planejei viajar para ver o jogo Vasco e Flamengo. Comprei só a minha passagem pensando na diversão com amigos. Refleti que, ao contrário do que muitos homens acham, a viagem poderia ser mais prazerosa se levasse a Juliana comigo. Comprei a passagem dela e fiz uma surpresa que a emocionou.

Meu filhou, Gabriel, comunicou, com a alegria de quem convida o pai para algo importante da sua vida, que, no sábado, teria uma apresentação de um grupo de dança que participa. Pedi desculpas, disse que já tinha uma viagem marcada e que não estaria na apresentação. Os olhos de alegria murcharam em frustração, com se fossem flores e um dia fosse primavera e o outro outono.

Durante alguns dias aquele sentimento incomodou meu coração. Lembrei quando tinha 12 anos e meu pai, que trabalhava na Embrapa no Km25 da AM-10, apareceu de surpresa pra assistir meu jogo de voley no Ginásio do SESC-Centro no meio da manhã. Naquele mesmo ano, em outubro, ele faleceu aos 39 anos. Não tivesse visto aquele jogo, nunca mais teria me visto jogar e nem me dado uma alegria tão grande.

Decidi não viajar mais. Ainda tinha que ligar pra a Juliana (não é a mãe do Gabriel) que certamente ficaria frustrada depois de tantos planos que havia feito pra viagem. Liguei e comuniquei. De onde esperava reclamação, ouvi: “Sinto orgulho de você pela sua decisão. Ficaremos pra ver a apresentação do seu filho.”. Ela é uma mulher virtuosa.

O Gabriel, 14 anos, tem nos encantado, lendo partitura, tocando piano e dando os primeiros passos no violino.

Fecho os olhos e não sonho com riqueza pro meu filho. Sonho com ele tocando piano e violino para os meus ouvidos, porque quando eu me for não quero deixar bens, quero deixar um pedaço de mim e um pedaço de mim é a música que nunca toquei… (Inspirado em Ruben Alves).

Hoje completo 38 anos. Sou um homem resgatando a verdadeira felicidade. Tivesse feito a bobagem de viajar, não teria visto a alegria nos olhos do Gabriel e nem recebido um abraço tão afetuoso.